Passamento do Ceará

No sábado , dia 28 de abril, perdemos o Demontiez Ribeiro Pontes. Ele faleceu, tragicamente, em um acidente de moto quando pilotava uma de suas Harley-Davidson. As condições de sua morte já estão devidamente comentadas nos jornais e revistas especializadas em motociclismo.

Eu o encontrei no dia do acidente, quando ele chegou, por volta de 9 horas, na loja HD em Porto Alegre. 

Ele chegou, estacionou e logo vieram os amigos/conhecidos/curiosos para ver sua moto. 

O Ceará era um sujeito daqueles que eu digo que tem um "personalidade exuberante". Impossível não notá-lo. A sua moto era um espelho de sua personalidade. A mais cromada, a com maior número de acessórios, a mais bem lavada, secada, polida. Tudo no Ceará era transbordante. Ele, também, transbordava atenção. Tão logo se livrou do "assédio" entrou na loja e veio me cumprimentar. Estava radiante, feliz, eufórico. Talvez a moto fosse nova ou talvez ele a tivesse pintado mais uma vez, em umas das tantas personalizações que o Ceará fazia. Não tive tempo de perguntar sobre a moto. Ele logo foi solicitado por outros presentes e saiu de onde eu estava.

Pouco depois eu deixei a  loja.

O  HOG (Harley Owners Group), grupo  assistido pela própria HD  foi para seu destino na serra gaúcha e com ele seguiu o nosso amigo. Nós, os Sulistas, já que a chuva era inevitável, desistimos de Torres para um passeio mais curto.

No fim da tarde fico sabendo da triste notícia. Passei a recordar as inúmeras vezes que estive com o Ceará. 

Me permito contar uma de suas "confissões", que ele relatou na minha presença e de outras pessoas. Por ter sido um relato público não me sinto constrangido em revelar.

O Ceará não mais fazia parte de grupo algum e começou a "flertar" com os Sulistas. Várias vezes me disse que nos achava organizados e que ficaria feliz se pudesse andar conosco. 

Acontece que o Ceará era um sujeito muito rico, daqueles que usava uma bota de couro de "aligator" que valia US $ 1.500,00 e que tinha uma moto que  tinha o valor de outra, só em acessórios. Eu disse a ele: "Ceará, você é um sujeito rico e os Sulistas são um grupo classe média. Nós, quando viajamos, usamos hotéis 3 estrelas e você deve usar hotéis 5 estrelas. Não vejo como conciliar este ponto!"

Aí ele contou: quando veio do nordeste para aqui morar, certa feita, ele encheu um fusquinha de redes e as foi vender em Uruguaiana. Como ele não tinha dinheiro para pagar o hotel, se viu obrigado a dormir no carro. E tantas eram as redes que ele sequer pode baixar o banco. Teve que dormir sentado. E então concluiu "Eu sou um sujeito simples; durmo em qualquer lugar!".

Por alguma razão qualquer o Ceará não veio a fazer parte do nosso grupo mas deixou amigos, não só entre nós, mas em toda a comunidade motociclística.

Sentiremos falta dele. 
Ele está escrito na lista dos amigos dos Sulistas MC.

(Texto: Keffer    Foto: www.sobremotos.com.br)